Mitos sobre o acolhimento familiar
E se eu me apegar à criança ou adolescente durante o acolhimento? Posso adotá-la? A criança não vai sofrer? Todo mundo pode acolher? Quem pode ser acolhido?”
São muitas as confusões e dúvidas que aparecem quando se fala em acolhimento em famílias acolhedoras. Por ainda ser pouco difundido no Brasil, é comum a existência de ideias preconcebidas ou equivocadas a respeito desse serviço. Essas dúvidas existem tanto por parte daqueles que pensam em acolher uma criança ou adolescente, como por parte de profissionais que ainda não tiveram experiência com esse tipo de serviço de acolhimento. Isso pode interferir na mobilização de famílias acolhedoras, no atendimento às crianças e adolescentes e no trabalho com as famílias de origem.
Mas, quais são os mitos mais comumente difundidos a respeito do acolhimento em família acolhedora? Veja abaixo.
MITO: Acolher é uma forma de adotar
O acolhimento é uma medida protetiva e se caracteriza pela provisoriedade, ou seja, tem como premissa a transitoriedade. É validado por um Termo de Guarda e Responsabilidade expedido por autoridade judiciária, a pedido do SFA. Responde a uma demanda por cuidados e proteção em um momento específico de crise na vida da criança e/ou adolescente. Logo, é importante lembrar que a família acolhedora não pode solicitar a adoção da criança e/ou adolescente acolhido, uma vez que adoção e acolhimento têm propostas inteiramente diferentes. Ao contrário do acolhimento, a adoção se caracteriza pela sua perenidade, é uma via de constituição de família. A adoção é um projeto de vida inteiramente diferente do envolvimento proposto no SFA e possui um instituto jurídico que segue trâmites legais próprios e, portanto, no Brasil, não se privilegia a família acolhedora para a adoção.
MITO: É ruim para a criança se apegar à família acolhedora e vice-versa, pois eles terão que se despedir depois
A existência de afeto e vínculos constituem os objetivos do SFA. Sabe-se que crianças e adolescentes necessitam de relações seguras com os adultos que se responsabilizam por elas e, havendo o afastamento de suas referências familiares, é importante que a família acolhedora estabeleça vínculos saudáveis com o acolhidos. Essa é uma ponte para o apego seguro e para um cenário propício e estimulante ao desenvolvimento da criança e do adolescente, bem como permite que se invista em uma transição tranquila e gradual ao final da medida de proteção. Portanto, o vínculo afetivo e o apego entre o acolhido e a família acolhedora são inevitáveis e devem ocorrer de forma saudável e protetiva.
Como o apego é fundamental para o estabelecimento do vínculo e imprescindível para o desenvolvimento saudável, eles não devem ser encarados como uma preocupação ou como um problema no SFA, e sim como um benefício dessa modalidade de atendimento. A questão importante é que as famílias que acolhem tenham clareza do papel ao ofertar cuidado temporário a crianças e/ou adolescentes que não são seus filhos e que voltarão para suas famílias de origem ou serão adotadas. Logo, é comum e esperado que a família acolhedora se apegue e que possa sofrer ao final do acolhimento. E com um trabalho pautado no diálogo, no respeito e com bom acompanhamento e preparação, espera-se que apesar da dor da despedida se possa vivenciar a alegria da missão cumprida e os frutos de uma boa relação construída entre os envolvidos.
Veja o que Sérgio, membro de uma família acolhedora tem a dizer sobre isso:
Uma das coisas que as pessoas mais nos perguntam é: se você se apegar à criança? E a resposta não pode ser mais clara: É óbvio que iremos nos apegar. É por isso que ela está vindo para nossa casa, para ser amada, protegida, estimulada… Esse apego é fundamental para que a criança possa se desenvolver. Para mim, esse amor é um dos mais puros e sinceros que podemos sentir. Quando chega o momento do desligamento, conseguimos perceber o quão forte e segura a criança se tornou e temos a sensação de dever cumprido.” "
Família acolhedora
MITO: Apenas famílias tradicionais, com mãe, pai e filhos podem acolher
Famílias com diversos arranjos podem acolher: adultos sozinhos, casais, casais em relacionamento homoafetivo, adultos com ou sem filhos. O que é importante para que uma determinada pessoa ou família acolha está ligado à sua rede de apoio e disponibilidade, e não necessariamente à sua configuração. Uma pergunta que geralmente é feita às famílias acolhedoras é com quem elas podem contar em uma situação de emergência ou caso precisem de apoio. O SFA não se alicerça em um modelo único de família, mas sim na ideia que somos agentes sociais corresponsáveis por nossas crianças e adolescentes. A resposta sobre quem pode acolher é construída conjuntamente entre equipe técnica do serviço e interessados, em uma relação de honestidade, respeito e responsabilidade acerca das potencialidades e desafios que cada família poderá enfrentar ao acolher.
MITO: Não há famílias dispostas a acolher
Encontrar famílias candidatas com perfil, aptidão e disponibilidade em acolher é sim uma tarefa exigente. Mas isso não quer dizer que não haja famílias que queiram e possam acolher. O que ocorre é que, muitas vezes, não há divulgação suficiente do SFA nos municípios que oferecem esse serviço, de forma que muitas famílias não tomam conhecimento sobre ele. Em outros casos, pode acontecer de haver famílias interessadas, e não haver SFA em execução no município.
Alguns estudos nacionais têm demonstrado que a mobilização de novas famílias é um dos grandes desafios da implantação dos SFAs no país. Segundo essas pesquisas, algumas dificuldades importantes relacionadas à divulgação aparecem cotidianamente, como:
- Falta de recursos financeiros para a efetivação de campanhas sistemáticas;
- Necessidade de execução de ações mais expressivas para além de distribuição de folders e cartazes;
- Necessidade de superação da permanente confusão entre os objetivos e conceitos do SFA, da adoção ou do apadrinhamento afetivo.
Por isso, há necessidade de investimento e atenção para a divulgação e seleção das famílias acolhedoras. Saiba mais sobre ações de mobilização de famílias no Caderno 4 do Guia de Acolhimento Familiar e aqui.
Outros mitos e dúvidas sobre o acolhimento familiar são respondidos na seção Dúvidas Frequentes, confira!